sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

O conceito de ironia trágica

O conceito de ironia trágica pressupõe a convicção de que sem ironia não há tragédia.
A ironia trágica é o que permite diferenciar a ideia de destino propriamente trágico da ideia de destino presente nos mitos que a tragédia toma como matéria-prima.
A ironia da acção trágica, no entanto, pressupõe uma ironia diante da acção trágica, ou seja, um distanciamento irónico-reflexivo por parte daqueles que a conformam – o poeta trágico e o espectador da tragédia. Se, sob a perspectiva do herói, não é possível apreender que todas as suas acções o conduzem justamente na direcção contrária a que pretendia ir e ao mesmo tempo se admite que nessa inversão de sentido, típica da ironia pensada como tropo da retórica, é que repousa a tragicidade da acção trágica, então é forçoso concluir que a ironia da acção trágica só se torna visível a partir da ironia do autor, ou, conforme o caso, do espectador da tragédia. Isso, aliás, é o que Aristóteles indica na Poética quando afirma que sem Reconhecimento não há tragédia. Só apreende a tragicidade de sua situação quando se torna um espectador de si mesmo.
Supondo que a linguagem da tragédia é constituidamente irónica, na medida em que são as ambiguidades presentes nos discursos dos personagens trágicos que permitem a ironia da acção trágica.
A partir dessa distinção, fica claro que só é possível falar numa tragédia da linguagem se compreendemos a ironia da linguagem trágica como uma ironia instável, ou seja, um tipo de ironia que não permite uma estabilização definitiva do sentido de um dizer e, assim, condena aquele que fala ou escreve a manter-se sem controlo à priori do sentido daquilo que diz.

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