sábado, 14 de janeiro de 2012

Catarse

Catarse. Purificação, limpeza, libertação e superação. Tudo isto se relaciona com este conceito, mas como acontece? Essa é a verdadeira pergunta. Como purificamos a nossa alma? Conscientemente, por vezes, invocamos memórias inconscientes que se encontram no nosso interior, com o objectivo de explorarmos certos factos que foram traumatizantes, e através disso, acabamos por libertar algum do ódio ou raiva que guardámos dentro de nós por tanto tempo. Sentimos um certo alívio, pois aceitámos as nossas emoções contidas, reprimidas.
Podemos também dizer que através da identificação nos purificamos. Por exemplo, quando estamos a assistir a uma peça ou a um filme, envolvemo-nos com o drama, com as personagens, o que faz com que sintamos as mesmas emoções que estas, como medo, compaixão, raiva, sem na verdade, vivermos a situação. Identificamo-nos com a personagem, compartilhamos sensações e desta forma, purificamo-nos. Temos o exemplo de "Romeu e Julieta" de Shakespeare. Quando lemos a peça e nos deparamos com a situação de ambos; eram filhos de pessoas muito importantes da cidade e acabam mortos pelo seu colossal amor, nós escolhemos, conscientemente, sentir o mesmo que os protagonistas, e torcemos por um final feliz, tal como as personagens, ao mesmo tempo que sentimos todo o ódio, a raiva, etc.
Reflectindo sobre o assunto, para atingir a catarse, a pessoa tem de passar do estado de "Felicidade" para o da "Infelicidade". Contudo, se a pessoa não estiver disposta a aceitar a sua situação, será impossível experienciar catarse. Tal como é necessário que surja uma situação que se identifique com a realidade dessa pessoa. A catarse é algo que nos torna mais conscientes de nós próprios, que nos leva a conhecer o nosso eu mais íntimo, pois acedemos a memórias, a informações, que geralmente pomos de parte e não nos damos ao trabalho de pensar. Quando isto acontece, temos acesso ao nosso eu de agora, ao mesmo tempo que partimos em direcção a outros momentos que fazem parte do nosso mundo interior; lugares, pessoas que, outrora, foram o nosso presente, mas que de alguma forma, no presente, fazem sentido para o nosso inconsciente conhecer e processar. Nestes outros tempos, encontramos outros “eus” com os quais nos identificamos, sentimos como sendo nossos, vivemos dramas cheios de tristezas e ódios, desesperos e abandonos, vinganças e medos, bloqueios e dor, sombras, e também histórias de amor, perdão, sabedoria e esperança. O retrato que “observamos” nesse momento, pode ser o bebe, a criança, o adolescente, ou o adulto que fomos, ou mesmo alguém que não tem nada a ver connosco, mas que nos familiarizamos, pois conhecemos alguém que se identifica com esse problema, e que nos é querido, logo essa história tem ressonância em nós.
Podemos assim concluir que a catarse é invocada pela tragédia, onde inicialmente se experienciava este fenómeno, mas que actualmente, podemos também sentir noutros estilos literários.

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