terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Análise dos poemas “António Vieira” e “Screvo o meu livro à beira-mágoa”



 “António Vieira”

Neste poema, Fernando Pessoa qualifica António Vieira como o maior orador do seu tempo, notável estilista da prosa portuguesa como se denota no verso “ imperador da língua portuguesa”.
Quando Pessoa diz “surge, prenúncio claro do luar, El-rei D.Sebastião” refere-se aos escritos do Padre António Vieira referente às esperanças de Portugal que um grande rei conduziria a um futuro Quinto Império Mundo. Baseia-se também nas profecias de Bandarra que anunciava o regresso do rei D.Sebastião.
Pessoa tem um momento em que afirma “foi-nos um céu também”, ou seja, designa António Vieira como um céu estrelado dos portugueses, grandioso, trazendo assim, grandiosidade à Língua Portuguesa.
No verso “Mas não, não é luar: é luz do etéreo”, o poeta diz que não é o luar, ou seja, o final do dia, referindo-se ao Império Material das Índias mas a luz celeste, o começo de um novo dia, um Império Espiritual, o Quinto Império.



“Screvo o meu livro à beira-mágoa”

Este é um poema sebastianista. Neste, o poeta, na sua mágoa, preenche os dias refugiando-se no mito de um Salvador que há-de vir redimi-lo e realizar o sonho português de há muitas eras. Embora ciente da sua existência apenas do sentir e pensar, arremete-o a dúvida de quando será a sua vinda.
Este poema divide-se em duas partes:
A primeira resume-se aos primeiros seis versos. O poeta fala da sua tristeza e da sua única consolação – a crença de um “Senhor” que é a única entidade capaz de lhe devolver a confiança no futuro e preencher os seus “dias vácuos”.
Já a segunda parte é constituída por várias perguntas introduzidas por “Quando” e dirigidas a uma entidade mítica (Rei, Senhor, Hora, Cristo, Encoberto, Sonho), invocando a sua vinda rápida, sendo esta a única maneira de materializar os sonhos centenários e de o poeta se libertar do contingente, do incerto e de alcançar “Novas Terras” e “Novos Céus”.


Rita Cruz, Nº26, 12ºE

sábado, 1 de dezembro de 2012

V - O TIMBRE

A Cabeça do Grifo/ O Infante D.Henrique

Em seu trono entre o brilho das esferas,
Com seu manto de noite e solidão,
Tem aos pés o mar novo e as mortas eras -
O único imperador que tem, deveras,
O globo mundo em sua mão.

O poema tem como título, A Cabeça do Grifo - O Infante D.Henrique, este animal é um simbolo da condição de herói, assim, pudemos então concluir que o poeta considera o Infante como um herói.
O Infante D.Henrique era filho de D.João I e da rainha D.Filipa de Lencastre e foi um importante navegador da história de Portugal, tendo os seus marinheiros descoberto os Açores e a Madeira.
Este poema quanto à sua estrutura externa caracteriza-se por ter uma rima cruzada, emparelhada e interpolada.

"Com seu manto de noite e solidão"
O Infante D.Henrique encontra-se sozinho e era durante a noite que este gostava de desenhar os seus planos de descoberta.

"Tem aos pés o mar novo e as mortas eras"
O Infante tem aos seus pés o mar acabado de descobrir e a Idade das Trevas, "...mortas eras", acabou, devido ao avanço do conhecimento científico.

"O único imperador que tem, deveras"
Ele é "o único imperador" que tem o mundo nas suas mãos.

"O globo mundo em sua mão"
Apenas ele tem o conhecimento das terras descobertas e das que estão ainda por descobrir.


Uma Asa do Grifo/ D.João O Segundo

Braços cruzados, fita além do mar.
Parece em promontório uma alta serra -
O limite da terra a dominar
O mar que possa haver além da terra.

Seu formidável vulto solitário
Enche de estar presente o mar e o céu,
E parece temer o mundo vário
Que ele abra os braços e lhe rasgue o véu.

O Grifo pode também ser um símbolo do conhecido e do desconhecido, o que se pode aplicar a D.João II por ter ido além do que se conhecia na altura.
A cabeça do grifo é referente ao Infante D.Henrique, no entanto para as suas ideias/sonhos se realizarem, era necessário alguém que lhes desse continuidade, ou seja, eram precisas asas, sendo uma destas, D. João II, que assumiu a direcção da expansão marítima e teve o plano de dobrar o Cabo da Boa Esperança, de forma a obter a rota marítima para a Índia.
Nos Lusíadas, encontram-se algumas referências a este rei no canto V e VIII, mas não lhe é dada muita importância, porque simplesmente pôs em prática aquilo que outros, como o Infante D.Henrique, já tinham pensado, sendo dessa forma mais fácil seguir as suas "pegadas".

Na 1ªestrofe é destacado o poder da vontade, como é exemplo logo no primeiro verso, "Braços cruzados, fita além do mar", que quer dizer que D.João II não está a usar a força, mas sim a vontade para encontrar o caminho marítimo para a Índia.
"Promontório"
É o limite referido nos dois últimos versos, "O limite da terra a dominar/O mar que possa haver além da terra" e que ele próprio o tenta exapndir.

2ª Estrofe
"formidável vulto solitário"
É um elogio de Pessoa, a todos os heróis solitários de Portugal, pois são estes que lutam a favor de Portugal.
Os últimos três versos referem-se ao facto de, D.João II ter ido à descoberta por mares nunca antes navegados e terras que eram também desconhecidas. O que faz com que o mundo tenha medo que este rei, devido à sua vontade descubra os mistérios deste, "E parece temer o mundo vário/Que ele abra os braços e lhe rasgue o véu."