quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

A velhice e a doença nas nossas vidas

     Escrevo-vos hoje querendo expressar algo que é um pouco deprimente, mas também querendo suscitar um debate saudável, talvez um tema para uma das nossas sempre interessantes aulas de Português. Vamos lá então começar.
     Gostava de começar pelo título imposto a este "post". Todos nós, espero eu, temos alguém idoso na nossa vida. Seja um ou dois avôs ou avós, ou uma mãe ou um pai, no caso do nosso querido professor. E chega aquela altura da vida de uma pessoa em que se pode dizer que se é velho. Legalmente acima dos 65, mas um pouco antes já lá se chegou. A visão começa a turvar, por vezes um pouco mais do que o normal, a memória falha. Listas de medicamentos sem fim aparecem, ora para as dores, para o Alzheimer, para um órgão que teima em não funcionar, e por vezes, descontrola-se a bexiga ou os intestinos e lá adicionamos mais um item à nossa lista de compras. Mas as pessoas que destes cuidam? É exactamente o oposto de cuidar de um bebé, apesar de se fazer a mesma coisa. Não é algo que nos dê felicidade, antes pelo contrário. Tem de se mudar fraldas, alimentar alguém, pô-los a dormir, ralhar com eles, tentar ensiná-los; mas o problema não é estes não saberem. É estarem a esquecer o que durante muito tempo souberam.
     Desesperar até que estes abram a boca, se estes deitam fora o que lhes demos, e até se estes se lembram de quem somos ou se somos apenas um chato que nos quer enfiar comida pela garganta abaixo, e não nos deixa dormir, que no final de contas, é tudo o que uma pessoa idosa acamada com Alzheimer quer. Como não consegue andar e passa o dia deitada, só quer dormir. Aqueles que ainda têm a sorte de poder andar, menos mal, mas continua a ser no mínimo, desagradável.
     "Mãezinha, quero dormir." Foi das frases que mais ouvi durante esta pausa natalícia. Mais deprimente se torna quando esta "mãezinha" já não está entre nós à pelo menos um bom meio século. Mas introduzi esta "fala", pois quero questionar a inocente alma que ler ou ouvir isto, do seguinte modo: será que é mais saudável para um jovem manter uma recordação de alguém saudável, que nos contava histórias e nos fazia vontades, ou uma recordação como acabei de descrever? Será mais saudável termos uma espécie de preparação para o futuro, ou mantermos uma recordação de sanidade, para o bem da memória e do ser?
     Concluo agora, desejando um resto de boas férias, e que acordemos todos para um espectacular segundo período. Para o nosso professor, sinta-se à vontade para usar isto onde quiser. Quanto ao resto que lhe chegue a por a vista em cima, identifiquem-se e mantenham sempre na vossa cabeça uma recordação saudável dos vossos entes queridos, porque nunca se sabe quando é que estes já não se vão lembrar de vós. Depois disso, e sem querer desmoralizar nem entristecer ninguém, estejam preparados para o inevitável, porque mais tarde ou mais cedo vai acontecer. É só preciso manter na memória uma recordação de tempos mais áureos. Muito obrigado e boa noite. Já agora, um feliz ano novo. Peço desculpa se comovi alguém, mas era de facto, no fundo deste pequeno texto, a minha intenção. Boa noite, e um sono descansado.

Rui Silva

2 comentários:

  1. Rui, gostei de ler o teu texto. Que posso dizer daquilo que contas? Apenas que, por mais que nos prepararemos para a vida, existem sempre acontecimentos que nos deixam sem capacidade de resposta. Resta resistir, como se a vida não fosse em grande parte uma prova de resistência. Abraço forte, rapaz

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  2. Fenomenal o teu texto Rui. Um autêntico abanão a este mundo de aparências e vaidade onde os mais experientes são por tantas vezes esquecidos.
    Não deixo de acreditar que dos tesouros mais subvalorizados que este nosso país tem assim como toda a cultura ocidental são os mais velhos.
    Com este texto só enriqueceste as pessoas o que é deveras complicado. Obrigado.

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