Impressões de Viagem
A camioneta desloca-se a mais de 100 Km/h. Atrás do reflexo desfilam verdes e castanhos manchados por pequenas habitações dispostas irregularmente.
No avanço do anoitecer reflete-se a crescente proximidade a casa, reconfortante após um dia fatigante. A velocidade proporciona à paisagem uma desfiguração homogénia, impossibilitando-me de fixar o olhar.
Na verdade, pouco importa o que se situa para lá dos vidros, mero cenário de toda a agitação no autocarro.
Fragmentos de conversas cruzam o ar, rapidamente abafados por músicas distintas e vozes que as acompanham, tornando o ambiente descontraído.
Observo quem me rodeia. As pessoas nunca deixam de me espantar. Quando penso que fui finalmente capaz de decifrar alguém, as suas reações apanham-me de surpresa. Sei que mais sensato é aquele que não cria dos outros expetativas. Porém, é incontrolável esperar uma certa atitude em certas circunstâncias, quando uma pessoa apresenta um certo padrão comportamental.
Tenho, então, uma surpresa potencialmente negativa ou positiva, sempre acompanhada por alguma emoção e alteração do nosso pensamento, mesmo quando fingimos indiferença.
Olho à minha volta. Será que algum dia conhecerei inteiramente algum dos que me rodeia? Certamente que não, sendo que nunca serei capaz de prever infalivelmente como reagirá alguém numa determinada situação. Mesmo com mil anos de convivência.
Para tal, seria necessário conseguir prever as minhas próprias reações, sendo-me isto totalmente impossível. Será que algum dia me conhecerei realmente?
Já escureceu. A agitação foi dominada por uma posterior tranquilidade.
As pessoas são um mistério. Mas estou quase a chegar a casa.
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