Uma viagem. O deslocamento de alguém, de um lugar para outro Uma viagem pode mudar um ponto de vista, e o tempo em que isso acontece é relativo e insignificante. Comummente, pensamos apenas no tipo de viagem físico e concreto, porém muitas vezes, damos por nós a fazer um deslocamento espiritual e subjectivo.
Na vida, todos fazemos jornadas que nos mudam. Contudo, nada nos muda sem antes nos desorientar. Desorienta-nos porque aquilo com que estamos habituados a lidar, aquilo que corresponde à nossa realidade, passa de um momento para outro, para algo que talvez já não faz sentido na nossa cabeça e leva-nos a fugir ou a afastarmo-nos. Nem tudo é branco ou preto, nem tudo permanece igual e essa é a verdade. Todavia, por vezes voltamos ou temos a ânsia de regressar ao lugar inicial, ao sítio de onde partimos, ao nosso passado, ao que outrora nos fora tão próximo, uma veracidade. Isto acontece, pois somos humanos, sensíveis. Essa sensibilidade leva-nos a sentir a saudade. Todos contemos dentro de nós lembranças nostálgicas, acompanhadas de um desejo de voltar. E porque será que isto acontece? Porque esse algo nos proporcionava um certo bem-estar, um contentamento, que nos fazia ter uma percepção da vida diferente. As memórias não serão como os quadros? Existe algo tão grandioso, como um quadro original que podemos observar quando vamos a um museu, mas quando saímos de lá, não passa de uma memória, e a imagem que outrora fora grandiosa, agora é representada apenas por um pequeno quadrado na nossa cabeça.
Supostamente, o passado indesejado deveria permanecer no pretérito, pois é algo cristalizado, longínquo e isolado, que escolhemos manter assim, devido à pouca vontade de recorrer a certos momentos. Contudo, nada nos impede, nada nos trava de voltarmos lá, de nos lembrarmos. E somos como que obrigados a descer às fundações, que sustentam aquilo que nos faz, e apercebemo-nos que cada pessoa, cada lugar com que nos cruzamos é aquilo que verdadeiramente nos define. Porém, ao fazermos isto, lembramo-nos daquilo que nos fez seguir em frente, que nos fez querer esquecer o passado, e esse pesadelo que quisemos abandonar, volta. E ao fazermos uma introspecção, apercebemo-nos de que se encontra agora nítido na nossa mente o medo, a dor e o terror causados por esse tempo passado, mas que antigamente, era o que nos trazia esperança, o que nos fazia feliz. Regressamos assim a um sítio, onde já não nos reconhecemos pois tínhamos um destino diferente.
Ao termos noção da realidade, concluímos que o reflexo que vemos no espelho, comparado com o passado, mudou, de uma forma positiva. E são estas pequenas viagens, as impressões com que ficamos delas, que nos fazem acreditar que de facto a vida continua e prossegue apesar de tudo, que somos capazes de ultrapassar as coisas, e o que nos magoa é que nos faz crescer mais. Sim, viagens ao passado são perigosas, mas não é a fugir da vida que chegamos a algum lado, que alcançamos o que queremos ou que resolvemos as coisas. Temos de acreditar no possível e no impossível, porque é possível renovar a realidade das memórias.
No final, tudo acaba por se tornar numa lembrança, umas são melhores que outras, mas está nas nossas mãos alterar cada destino da nossa vida, cada desafio que se põe diante de nós, porque tudo é assim. Numa simples viagem de carro, um pneu pode ficar furado, podemos ficar sem gasolina, …mas isso não nos impede de continuar, encontramos soluções para cada problema. E a vida é mesmo assim, não é um ciclo, mas sim uma viagem contínua. As coisas mudam, é assim que a vida funciona. Mas temos de mudar com elas, não nos podemos agarrar ao passado porque viver é algo do presente, não é uma coisa do futuro e muito menos, do passado.
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