terça-feira, 3 de maio de 2011

Tese sobre o livro "As Aventuras de Alice no País das Maravilhas"

Neste livro de “As Aventuras de Alice no País das Maravilhas” de Lewis Carroll tudo se passa numa dimensão entre o mundo real e o mundo da fantasia, onde os animais falam e têm atitudes humanas. Alice é uma criança do mundo real mas com pensamentos e sonhos extraordinários, que embora possam existir na realidade, fazem parte da sua fantasia.
 Este livro tem como principais perguntas, “quem sou eu?” ; “como sou eu?” e “o que sou eu?”. Ao longo do livro, Alice tenta descobrir a resposta a todas estas perguntas, sem sucesso. Quando é confrontada pela lagarta com a pergunta “Quem és tu?”, Alice não consegue responder e sente-se confundida com tantas mudanças físicas por que tem passado, como o seu aumento e a sua diminuição constante de tamanho e a única certeza que tem é a imagem que tem do mundo real, ou seja antes de ter entrado na toca do coelho.
Assim, apesar de saber que está num mundo fantástico, Alice não se afasta totalmente do mundo real, continuando com as suas atitudes de criança, o que a leva a nunca, estar satisfeita com o tamanho que tem, querendo sempre mudar, pois cada tamanho (do mundo dos sonhos) tem uma consequência que Alice inicialmente gosta e lhe convém para conseguir algo, mas quando se encontra na nova situação, deparam-se-lhe novas dificuldades para poder fazer o que se lhe é “pedido”. Podemos encarar este exemplo como uma espécie de metáfora para as decisões que tomamos no nosso dia-a-dia (real), pois embora num primeiro momento possamos ficar satisfeitos (real e fantasioso), cada uma leva sempre a uma consequência, que acabará por poder ser do nosso agrado ou não (real).
Outro tópico que é bastante importante neste livro, é a ideia de justiça, o seu significado e a forma de como esta é exercida no mundo real e no mundo de fantasia (o País das Maravilhas).
Se formos procurar ao dicionário (do mundo real) o conceito de justiça encontramos o seguinte significado: “conformidade com o direito; poder judicial; equidade”… mas no País das Maravilhas tudo é diferente, logo este significado não é o mesmo nos dois mundos. Assim neste mundo de faz de conta, a palavra justiça é apenas utilizada por ser uma palavra, que como Alice gosta de dizer, “pomposa”e muitas vezes confundida como uma forma de obter algo que se quer. Como se refere no poema do rato, no III capítulo do livro, trata-se sobretudo de uma forma de Fúria (o gato) comer o rato de cabidela ou de caldeirada, algo que no nosso mundo (pelo menos teoricamente!) não seria aceitável, pois não se pode exercer justiça quando está subjacente servir para incriminar alguém ou tirar partido dela ou de uma situação.
 Já durante o julgamento sobre quem roubou as tartes, presente nos capítulos XI e XII, a justiça é exercida apenas pelo Rei, que durante todo o julgamento acusa o Valete de ser o culpado do roubo, não querendo saber se existem ou não provas contra este. Neste caso a acusação contra o Valete resulta apenas do “porque sim”, justificação esta que no mundo real não basta e não é aceite (nem mesmo as crianças do mundo real se convencem com esta resposta!). Tanto neste julgamento feito pelo rei como na vontade de Furia em comer o rato, a aplicação da justiça baseia-se no interesse em que o acusado tenha algum tipo de pena e assim se exerce também o poder do mais forte sobre o mais fraco. Na nossa realidade, para haver acusação pressupõe-se haver provas contra determinada pessoa ou situação.
Assim, no País das Maravilhas é-nos dada a ideia de um local onde tudo é possível, extraordinário e fora do comum, o local onde podemos ser nós próprios sem sermos julgados… onde todos nós um dia gostaríamos de ir!
Em jeito de resumo desta reflexão sobre a relação de Alice consigo própria e com os outros, sobre a ideia de justiça e sobre o exercício do poder, transcrevo uma frase de Lewis Carroll que consta do livro “Alice no País das Maravilhas” que acho que serve para estes três tópicos:
“Aonde fica a saída?", Perguntou Alice ao gato que ria.
”Depende”, respondeu o gato.
”De quê?”, replicou Alice;
”Depende de para onde queres ir...”

Mafalda Vilhais

Sem comentários:

Enviar um comentário