A história da obra “Alice no País das Maravilhas”, da autoria de Lewis Carrol, é baseada num mundo irreal e imaginário, onde tudo o que é paranormal é aceite como habitual e usual, desde o facto de os animais falarem e tomarem chá, até àquele em que cartas de jogar são jardineiros; mas, na realidade, tudo não passa de um sonho de criança.
Ao longo de todo o livro, Alice debate-se com crises de identidade, visto que o seu tamanho vai sendo irregular, dificultando, assim, o processo de entendimento em relação à sua pessoa.
Quando Alice se depara com os seus diferentes tamanhos, dá-se conta que não tem a certeza de quem é, se é, ou não, a mesma que naquela manhã estava sentada ao pé de uma árvore, juntamente com a sua irmã mais velha. Para conseguir ultrapassar este dilema, tenta fazer vários testes, de modo a conseguir entender se continua igual, comparando-se com as suas amigas e com conhecidas, esperançosa de encontrar, finalmente, resposta para a pergunta “quem sou eu?”. Esta questão irá atormentá-la até ao final do livro.
Apesar de se encontrar num mundo irreal, Alice continuava a ser ela própria, tentando sempre mostrar que, apesar de “mimada”, até era uma rapariga inteligente. Esta personagem revela uma grande imaturidade, que passa por achar que aquilo que quer tem de ter e que ninguém tem o direito de a corrigir, ou de se mostrar mais importante. Por estes factores, outras personagens consideravam-na muito empertigada e “dona do seu nariz”.
Para além da relação sujeito consigo próprio e com os outros, o livro debruça-se também sobre os temas do poder e da justiça.
Os mais poderosos (os mais fortes) têm sempre poder sobre os mais inofensivos, os que não se podem defender.
Como exemplo, temos um pequeno poema, que está integrado na parte final do capítulo terceiro. Todo ele tem como tema principal o poder de julgar e de ser julgado. Neste caso, a Fúria (figura superior) afirma que o pequeno rato tem de ser julgado de imediato, naquele mesmo dia, sem deixar qualquer hipótese a uma recusa do rato. A discussão prende-se com o facto de o rato não poder ser julgado se não estiverem presentes o juiz e o jurado mas, como a Fúria tem um poder superior, por ser maior, afirma que ela própria será os dois. Afinal, o seu principal objectivo era comer o rato, de uma forma ou de outra, encontrando como argumento que ele terá de ser julgado.
No final do livro, é visível outra situação idêntica, quando o Rei acusa o Valete de ter roubado as tortas da Rainha, sem ter provas que o incriminassem, mesmo depois de todos os depoimentos e de todas as evidências indicarem a sua inocência. Como a figura superior apresentada é a do Rei, e a sua vontade será determinante, o Valete acaba por ser declarado culpado, mostrando, mais uma vez, o facto de que quem pode julgar fá-lo, independentemente das provas que existam.
Apesar de tudo não passar de um sonho de Alice, ela conseguiu crescer um pouco mentalmente, apercebendo-se de que nem tudo aquilo que, às vezes, gostaríamos de ter, ser, ou fazer é o ideal, e de que, em algumas situações, a realidade acaba por ser melhor do que certas fantasias.
Mariana Esteves
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