1. Introdução:
“Alice no país das Maravilhas” é título a que se pode associar perfeitamente a literatura infantil. Quem o lê inocentemente como apenas uma história de encantar, sobre um rapariga que do nada se vê envolvida num enorme enredo, onde animais falam, têm personalidades e desempenham as funções mais humanas e normais possíveis, e descobre que tudo isso foi um simples sonho.
Li uma obra que ao princípio pensava, ser simples e imatura, antecipei-me, tirei conclusões precipitadas, sobre uma obra que tal não merecia.
Ao longo da leitura, bastante guiada pelo professor, alguns aspectos chamaram-me á atenção, irei referir no próximo tópico. A análise de todos esses aspectos, foi possível, averiguar que a história não era somente uma história infantil, mas de reflexão subconsciente dessa mesma menina (Alice).
Em conclusão desta introdução, foi uma obra rica em quase todos os aspectos. Com outro olhar, foi possível, ver o que antes era praticamente ou pelo menos quase invisível, foi com a análise detalhada e competente que se descobriu um “código” por detrás de uma simples, bela e rica história.
2. Reflexão:
O inicio da obra (nomeadamente o capitulo I e II) dão-nos a introdução de toda a obra, que deve estar sempre presente na nossa mente pois contém elementos essenciais para a compreensão de aspectos mais adiante.
Nomeadamente, a utilização das palavras. Alice desde cedo demonstra um vocabulário bastante rico, para o seu nível de idade. Mas com que objectivo, quais são as intenções que a levam a utilizar esse vocábulo? Na medida em que pretendo responder a esta questão, aponto os exemplos do capítulo I[1]. Nesses precisos momentos é quase impossível não perceber que a única e a verdadeira intenção de utilizar as palavras, não para expressar o que sente ou que quer transmitir. Mas de facto, procura causar um impacto positivo da sua imagem. Uma imagem intelectual, de cultura e de maturidade. De facto para ela o significado nada de interessa se as palavras não são para completar frases, mas para dar tal como referi, a imagem.
Se me é permitido dizer, as palavras “pomposas” são ocas. Não têm qualquer tipo de função explicativa ou ilustrativa, mas representativa.
Anteriormente referi que as palavras transmitiam a ideia de maturidade, porque de facto esta obra não se trata somente de aspectos casuais como estes, mas de todo uma introspecção subconsciente da Alice sobre si mesma, sobre as suas mudanças que está a sofrer.
Dentro dos seus próprios pensamentos conseguimos identificar a luta com que ela se depara. Um claro exemplo aparece no fim do primeiro capítulo[2]. Na medida de uma transformação da sua pessoa, personalidade e ser. Uma metamorfose completa, se assim se pode dizer. Ao longo da obra é possível ser testemunha desse crescimento, o abandono da idade da inocência (fraca noção do correcto e incorrecto), ao identificar progressos da personagem, na medida em que confrontada por uma situação semelhante a uma outra vivida. Ela reflecte e conclui mediante os resultados e consequências da experiência passada. De modo a tentar uma abordagem diferente para que não erre. Quase que se aparenta a uma situação digna de “existencialismo” (corrente filosófica).
Este conjunto de peripécias, marca a sua relação com os outros, a sua inocência, ingenuidade acaba por inúmeras vezes ofender personagens, a sua ingenuidade no entanto, consegue talvez subconscientemente defender aquilo que acreditar, e expressar-se como tal, sem temer alguma repressão ou consequência por parte do destinatário, um bom exemplo disso é no fim do segundo capitulo. Quanto Alice se dirige a um rato e fala-lhe sobre a sua gata, o rato presa do gato, não gosta do tema, contudo Alice pede-lhe desculpa mas no entanto continua a falar-lhe sobre a Dinah (gata da Alice).
Isto passa-se uma única vez, pois partir desse constrangimento do rato, desde esse momento em diante a protagonista lembra-se desta experiência, tira as suas conclusões e evita ir pela mesma solução, para procurar resultados diferentes nos outros sujeitos.
Ainda neste tema, Uma das mais famosas características da Alice, é, na minha opinião, a sua ingenuidade. A Alice é retratada como sendo uma criança bastante jovem, contudo, madura. E é esta combinação que traz a sua enorme personalidade sobressair sobre os diálogos, desde os seus pensamentos aos seus discursos, Alice torna-o ingénuo mas de uma forma estratégica e/ou intelectual. A partir dos seus reparos perspicazes, somos capazes de formar juízos complexos.
Na questão do exercício de poder, apenas podemos fazer um juízo sobre apenas duas personagens. Monarcas, essencialmente. Destes dois mesmos, podemos distinguir a rainha.
A rainha a meu ver (a partir das observações da Alice), este monarca, é uma pessoa, agridoce. Na medida que pode demonstrar a sua simpatia e virtude, de forma bruta mas ao mesmo tempo assertiva. Tanto ou mais bruta e rude, é a sua forma de exercício de poder, podia afirmar-se que é uma tirana, Querendo a execução de homens, simples que apenas cometem pequenos erros ou fazem cometem acções que simplesmente não foram autorizadas ou planeadas pela rainha, são condenados à decapitação, sem grande consideração pela vida humana.
O senso de poder da rainha, é fraco, não demonstra qualquer tipo de respeito, pelo seu cargo, dignidade e sobretudo a competência para o cumprir devidamente. Na sua consciência, as suas ordens são consideradas perfeitamente normais, quotidianas. O exercício do poder é feito com uma enorme leviandade, sem análise das consequências que os outros sofrem, a rainha administra-se em vez de administrar um reino, sendo egocêntrica e totalitária. Neste parâmetro é possível associar a administração política, uma autêntica infantilidade, podemos deduzir que a ideia da justiça sob essa administração, será uma notória paródia, sem processos competentes como a nossa realidade insiste, investigações, acusações, argumentos, alegações, contra-alegações e outros sistemas que completam o circuito judicial. Acontece que o capitulo XI, precisamente o do julgamento, pinta com todos os lápis a imagem que acabei de referir. A justiça é o organismo mais nobre da sociedade, e é um claro reflexo desta, ora se a sociedade presente no livro é administrada por uma tirana mal-humorada que sugere a decapitação como a derradeira solução para todas maleitas das pessoas e do seu reino, é evidente que a sociedade e por consequente justiça, não poderiam estar sãs, ou seja, estabelece-se um circuito de consequências. Acontecimento 1 provoca o 2, que mais tarde desencadeia 3. E acho que é isso que o autor procurou retratar, codificado é certo, mas a mensagem na minha opinião é esta.
3. Conclusão:
Concluiu-se portanto que este livro “Alice no país das maravilhas” é, como referi na introdução uma obra, com aparência infantil. Tal como a personagem toma, por vezes, temas e apresenta conteúdos, maturos. Exemplo a metamorfose da Alice, o seu julgamento sobre o seu crescimento, enquanto pessoa e ser.
Por isso posso de facto, concluir com assertividade que esta obra é uma peça de literatura, uma vitamina, se me permitem. Uma vitamina que nos permite ser mais saudáveis enquanto leitores, evidentemente. Mas acima de tudo uma vitamina de decência e seriedade. Algo que nós não temos hoje em dia, este livro é um reforço. Para que todos os dias, sejamos capazes de pensar no antes para fazer melhor hoje e ainda melhor no amanhã.
[1] Citação: “…a que Latitude ou Longitude terei chegado? – (Alice não fazia a mínima ideia do que era a Latitude, nem a Longitude, mas achava que eram palavras pomposas para se dizer) … parece-me que são os antipatas … - (sentiu-se bastante satisfeita por desta vez não haver ninguém que a ouvisse, já que aquela palavra não lhe soava nada bem) ”
[2] Citação: “… pois esta criança tão especial gostava muito de fingir que era duas pessoas…”
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