quarta-feira, 4 de maio de 2011

«Alice no País das Maravilhas-Reflexão Pessoal»

Este livro que retrata o fantástico, foi escrito por Lewis Carrol. É a história de uma rapariga que através de um sonho vive a experiência mais emocionante da sua vida. Alice, vê-se transportada do mundo real para um mundo extraordinário, onde nada deveria fazer sentido e onde tudo deveria ser fora do comum. Após uma leitura atenta da obra pude destacar que esta retrata a evolução de Alice na procura de si própria Alice é uma pré-adolescente e, durante o processo de crescimento surgem diversas dúvidas e diversas questões para as quais nunca encontramos respostas ou soluções. Quando nos encontramos na adolescência passamos por uma crise de identidade, crise esta que dará origem àquilo em que nos tornamos. São as nossas dúvidas, as nossas questões e aquilo que cremos que fazem de nós o que somos. Alice, ao longo da obra, tenta encontrar-se, tenta definir padrões com que se possa identificar. Quando estamos prestes a ser adolescentes ou quando já o somos, surge uma tendência para querermos crescer, mas não deixar o passado para trás. Queremos permanecer numa idade intermédia que nos remeta para a idade adulta, mas nos deixe ser crianças quando assim o necessitamos. O sonho de Alice demonstra-nos o que acabei de referir. Esta não sabe quem é, mas sabe que não é outra pessoa, ou seja, ela tenta identificar-se com outras pessoas ao longo da obra, mas não consegue. Porque ela não é “elas”, mas também não é ela própria. Esta instabilidade emocional provém de um auto-conhecimento a que esta é submetida e com a qual esta tem de aprender a lidar. Entrar na adolescência é um processo complexo que envolve muito auto-contrôlo e muita confiança. É um novo mundo para descobrir, e, talvez o “país das maravilhas” seja a sua representação concreta e absoluta. Ao crescermos ganhamos responsabilidade e conhecemos o desconhecido, aquilo que para nós, que éramos inocentes crianças, parecia não existir. E, para mim, o fantástico do livro está a representar isso mesmo; aquilo que é totalmente estranho, mas com que temos de aprender a conviver e a lidar porque fará parte daquilo que somos e daquilo em que temos de acreditar. O crescimento é isso mesmo, contínuo, mas divide-se em fases. A adolescência é apenas mais uma delas. Uma fase preenchida por diversas emoções e diversos medos que assolapam o nosso ser e nos fazem descobrir quem somos, não apenas com quem nos identificamos, mas qual a nossa personalidade, aquilo pelo qual nos interessamos e as nossas atitudes perante as mais bizarras situações. A adolescência é um teste que nos prepara para ser adultos.
Ao longo do livro apercebi-me disso. Apercebi-me que as oscilações de tamanho de Alice, nos demonstram uma fase acriançada e uma fase já adulta e ela sente-se totalmente confusa por não se conseguir identificar com nenhuma destas, ou seja, por sentir que não pertence nem uma, nem a outra.
Todo este conceito de crescimento e de incerteza em relação a este mesmo está patente ao longo da obra:
“- Quem és tu? – perguntou.
Não era um princípio de conversa nada animador. Alice retorquiu, com bastante timidez:
- Eu... eu..., neste momento nem sei, minha Senhora... sei pelo menos quem eu era quando me levantei esta manhã, mas acho que devo ter sido transformada muitas vezes desde então”
Nesta conversa entre a lagarta e Alice, esta demonstra uma dificuldade em caracterizar-se e definir-se. Está a passar por uma crise de identidade, o que é bastante frequente quando se trata da adolescência e do processo de crescimento.
“- Valha-me Deus! Que esquisito que isto está hoje! E ainda ontem as coisas se passaram como de costume! Será que eu me transformei durante a noite? Deixa-me cá ver: seria eu a mesma pessoa quando me levantei esta manhã?”
É uma conversa de Alice consigo própria para conseguir encontrar o ponto da situação e conseguir aceitar todas as mudanças pelas quais estava continuamente a passar e com as quais tinha de aprender a lidar. Existem mais exemplos bem explícitos ao longo de todo o livro.
Talvez muitas outras obras, sejam como Alice, não apenas destinada às crianças e aos mais imaturos, mas àqueles que têm o poder de ver para além das palavras. Através de um segundo sentido que nem sempre os nossos olhos podem detectar. Julguei que Alice fosse apenas um conto infantil, e, nunca pensei, que pudesse tirar tanto partido de uma obra literária que supostamente é destinada aos mais pequenos. O livro “Alice no País das Maravilhas” surpreendeu-me positivamente. Não apenas pelo facto de se aplicar a todas as idades, mas pela noção que me deu sobre o crescimento e a corda bamba pela qual temos de passar para nos encontrarmos e acima de tudo, para sermos aquilo que somos sem qualquer porquê e sem qualquer justificação, apenas porque nos sentimos bem connosco próprios.

Sofia Pedro

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