Tese do livro Alice no país das maravilhas
A história retida nas páginas do livro da Alice no país das maravilhas, passa-se num país inimaginável, por onde se entra pelo buraco do coelho. Um mundo maluco e estranho, onde os animais se comportam como humanos e onde o tempo e o tamanho físico são relativos.
Contudo, o mundo real esta presente na historia, quando Alice se senta a beira do rio junto a irmã, que é o mesmo lugar onde adormece e sonha a sua aventura. O país das maravilhas é o mundo real mas representado simbolicamente aos olhos duma criança.
Deste modo no livro prevalece a violência, o medo, a coação, as ameaças, numa estrutura hierárquica em que os mais fracos e vulneráveis são os mais exposto, talvez Alice se sinta como”obrigada” a certos modelos da sociedade, que vê serem realizados por todas as pessoas a sua volta. Por isso Alice pensa que os tem de fazer, sentindo-se revoltada.
Toda a sua aventura é um sonho, e como em todos os sonhos, as regras da realidade são quebradas. Para Alice este mundo é desorganizado, pois nada faz sentido, mas isso não quer dizer que ela ignore as dissemelhanças, pelo contrário, ao as descobrir, Alice reflecte mais sobre ela. Estas diferenças de interpretação das palavras utilizadas, ao longo da obra, tanto pela Alice como pelas outras personagens faz com que a medida que aparecem novos problemas e novas personagens aja também conflitos. Alice é uma rapariga bastante esperta e ela bem o sabe, por isso no país das maravilhas ela se esforça em se apresentar como uma rapariga dotada, isso faz com que Alice escolha algumas palavras que apesar de não ter a certeza do seu significado sobe são palavras importantes.
No caso das outras personagens, o uso das palavras não é por serem mais “pomposas” que é motivo de Alice, mas por não terem grande consideração pelo significado das palavras. No livro a palavra justiça aparece “ no sítio certo”, ou seja com o significado adequado, mas completamente superficial, como se não servisse para nada. No julgamento final o propósito é obter a justiça, mas normalmente no nosso mundo todas as pessoas são inocentes até que as provas provem o contrário, no livro todos são culpados até que se ache que não. O dicionário fala de justiça como a conformidade com o direito, mas na história o direito é só mais uma palavra inútil. Na obra apesar do rei ser o juiz e o jurado não é ele que tem o acto de julgar, mas sim a rainha, que pretende sempre fazer uma justiça por suas mãos, ou seja, castigar sem recorrer aos poderes competentes. Esta é uma das grandes diferenças que Alice observa, pois no nosso mundo seria impossível executar esta justiça, seria mesmo punido quem o praticasse.
“Posso explicar uma porção de coisas, mas não posso explicar a mim mesma”.
(Alice respondendo a Lagarta quando esta lhe pergunta (quem és tu?)
Lewis Carroll não escreveu uma história concisa. Alice no País das Maravilhas é um emaranhado de acontecimentos aleatórios, elementos figurativos, desejos ocultos, mensagens subliminares, averiguações sobre o carácter e a moral. A história não tem uma ordem, ela vai se deparando com personagens estranhas ao longo do caminho, algumas delas, inseridas na história sem um contexto propriamente dito (como a vida)
Alice passa por varias experiências, descobre coisas que não sabia, tem que lidar com situações novas, personagens esquisitas, de carácter duvidoso, que analisam o seu próprio carácter...
Como quando a Lagarta pergunta a Alice quem é ela, e não aceita uma resposta superficial, deixando Alice irritada por não saber como responder.
A interrogação do seu eu, começa quando a menina, por causa da sua altura, não consegue entrar num jardim misterioso que se esconde atrás de um “buraco de rato”.Tomando chás e comendo cogumelos (literalmente), Alice passa a aumentar e diminuir de tamanho com certa frequência. Este tipo de problemas fazem com que a menina direccione e encha o livro com diálogos bastante profundos para consigo mesma.
A obra de Lewis Carrol retrata principalmente as mudanças, os conflitos e as aprendizagens da adolescência. Alice entra na aventura sem pensar em nada, de repente, como se entra na adolescência. A questão do tamanho lembra-me que a adolescência está presente em todos os episódios da história:
Alice está sempre crescendo e diminuindo dependendo da situação e isso certas vezes é conveniente ou não para ela. No primeiro capítulo, Alice reduz de tamanho e parece se tornar insignificante. Essa transformação faz com que ela tenha medo de encolher até desaparecer, contudo também lhe permite entrar no jardim. Em alguns episódios, Alice cresce de forma desenfreada, porém sente-se angustiada pois este não é o seu tamanho real todavia grande, sente-se mais confiante no julgamento no final do livro. (A adolescência traz consigo vários sentimentos, dependendo da situação e da disposição.)
Muitas coisas não fazem sentido, seja uma cerimónia de chá, um jogo de croquete, as atitudes daqueles que mandam, um julgamento etc. Quando a menina querendo satisfazer a sua curiosidade, faz uma pergunta sincera, recebe complexas explicações que a deixam mais perdida ainda. Neste ponto de vista, o livro é uma livro infantil, que deve influenciar muito mais as crianças que os adultos, pois já perderam a capacidade de sentir sem racionalizar. Quem senão uma criança para conseguir imaginar um País de Maravilhas com coelhos preocupados com a hora, cartas de baralho fiéis a uma rainha que só ordena execuções, um chapeleiro, um arganaz e uma lebre em uma interminável cerimonia de chá ou um gato de Cheshire que desaparece e reaparece em partes?
Quando noutra passagem Alice pergunta o caminho ao Gato e este lhe responde que se ela não sabe para onde vai, qualquer caminho serve.
Então eu pergunto: Então o nosso mundo não tem nada de maravilhoso? Quantas vezes perguntamo-nos, quem somos e para onde devemos ir? Quantas vezes encontramo-nos apressados, correndo de um lado para o outro, sempre contra o tempo? Quantas vezes ficamos aterrorizados vendo pessoas serem mortas por motivos banais? Quantas vezes somos movidos pela nossa curiosidade e saímos por ai seguindo um coelho branco, sem saber onde vamos chegar?
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