domingo, 9 de outubro de 2011

Tourada à Portuguesa


            Tourada, tema muito falado e que divide muitas pessoas pelas diferentes opiniões. A tourada é um espectáculo tradicional de Portugal, Espanha e França, bem como de alguns países da América Latina. Eu escolhi este tema pois é uma tradição portuguesa que divide bastantes pessoas, uns contra, e outros a favor. Nunca iremos chegar a um consenso. Grupos de devesa dos direitos dos animais criticam a prática desta tradição mas mais a frente eu irei tentar explicar o porquê de ser uma tradição e de eu ser a favor. A UNESCO reconheceu a tourada como um "património que evoluiu com a cultura". “...[O que] interessa é defender a tradição de Portugal, a tradição da corrida à portuguesa, o cavalo lusitano, o toiro de lide, a festa e o património material que representa a festa do toiro”.
Este espectáculo consiste na lide de touros bravos. Em cada país a lide do touro é diferente, em Portugal a tradição é menos cruel e sangrenta, pois o touro sai vivo da arena. Na corrida de touros à portuguesa os cavaleiros vestem-se com trajes do século XVIII e os forcados vestem-se como os rapazes do fim do século XIX. As cortesias marcam o início da corrida de touros à portuguesa. No início da corrida todos os intervenientes (cavaleiros, forcados, bandarilheiros, novilheiros, campinos e outros intervenientes) entram na arena e cumprimentam o público, a direcção da corrida e figuras eminentes presentes na praça. Nas corridas de gala à antiga portuguesa o vestuário é de rigor e na arena desfilam coches puxados por cavalos luxuosamente aparelhados. Os touros são lidados por cavaleiros, que têm um tempo determinado para cravar um número variável de farpas, de variados tamanhos, na gordura dorsal do animal. Após a lide do touro pelo cavaleiro é comum entrar em cena o bandarilheiro que efectua algumas manobras com um capote posicionando o touro para a pega. De seguida entram em cena os forcados. Os forcados são um grupo amador que enfrenta o touro a pé com o objectivo de conseguir imobilizar o touro unicamente à força de braços. Oito homens entram na arena, sendo o primeiro o forcado da cara, seguindo-se os chamados ajudas, primeiro e segundo ajuda, e mais forcados que também ajudam na pega, terminando no rabejador que segura no rabo do touro, procurando deter o avanço do animal e fixá-lo num determinado local. Em Portugal as touradas foram proibidas no tempo do Marquês de Pombal, após uma em que faleceu uma grande figura nobre estimada pelo monarca D. José. Voltaram a ser permitidas anos mais tarde, mas sendo proibidos os chamados touros de morte, onde o touro não pode ser morto em praça pública.
Tal como disse mais a cima, a Tourada é uma tradição, até a UNESCO reconheceu a tourada como um património cultural. Se é uma tradição porquê deixar de existir? Realmente o animal sofre mas será o suficiente para acabar? Na minha opinião não. As farpas que os cavaleiros cravam no touro só alcançam a gordura dorsal, pouco mais do que isso. Realmente deita sangue, tal como nós deitamos sangue quando nos cortamos mas não é o suficiente para acabar com uma tradição. Poderei repensar se sou realmente a favor da morte dos touros na arena. Isso não sou, pois aí os espectadores vêm o sofrimento do touro mas isso não acontece em Portugal por isso não têm razão de se revoltarem contra um património cultural. A tourada é uma guerra entre o homem e o animal, quando os forcados entram na arena estão frente a frente com o touro, sem protecção, ninguém protege o homem. Aí o homem não tem muitas probabilidades de morrer? Tem, tantas ou mais como o touro. Mais uma razão para eu ser a favor das touradas é o facto de os touros serem touros bravos, ou seja, são touros escolhidos e tratados com cuidados específicos para poderem ir para a arena. A tourada é como um negócio, dá emprego a várias pessoas, desde os cavaleiros até aos tratadores. Estas pessoas são pessoas que aprenderam com a família a arte deste espectáculo, muito provavelmente têm outro trabalho mas tal como nós gostamos de ter um hobbi, um desporto, uma distracção, estas pessoas gostam de pertencer a um grupo de tourada, de ajudar os cavaleiros, de lá estar, ver todo o espectáculo. O desfile dos cavaleiros com os cavalos, dos forcados, dos bandarilheiros, dos novilheiros, dos campinos e de todos os outros intervenientes, o vestuário tradicional, a lida dos cavaleiros, a pega dos forcados, tudo junto cria um espectáculo que é sempre diferente, que cria ansiedade, medo, felicidade e alegria.
Penso, que todos devemos repensar sobre o porquê da existência das touradas. Existem há mais de 100 anos. Será necessário acabar com esta tradição? Em qualquer livro cultural de cidades, vilas ou aldeias de Portugal a Tourada à Portuguesa aparece. Por alguma razão é. Nas lojas de lembranças há sempre algo com uma cena de Tourada à Portuguesa. Por alguma razão é. Acabar com a Tourada à Portuguesa é a mesma coisa de acabar com as visitas aos monumentos, tapá-los para que ninguém os veja. Iremos estar a acabar com a tradição, com o património cultural.


3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Não quero ser intruso, mas o movimento contra as touradas não se cinge a indivíduos que lutam pelos direitos dos animais.

    Pegando no ponto em que referes
    "Se é uma tradição porquê deixar de existir?"
    Sim, é justíficavel acabar com tradições quando não faz sentido a sua existência. Digamos, os autos-de-fé e as práticas da Santa Inquisição eram tradições bastante mais duradouras que a tourada (6-7 séculos, quando a tourada tem menos de 2). Como hoje sabes, é éticamente e moralmente reprovável queimar as pessoas pelas suas crenças e existem direitos convenientemente legislados que nos garantem a todos liberdade religiosa e liberdade de expressão.

    O sofrimento animal, ou digamos, a exploração animal é um tópico bastante mais abrangente que as Touradas, mas podemos partir do príncipio que tendo o consumo de carne, vestuário e experimental dos animais como aliados à evolução cultural humana, por alguma razão ainda o são praticados. Mas em contra-ponto, que justificação ética (mais longe, utilitarista) é que se pode usar para fundamentar as touradas? As touradas são uma actividade lúdica que se centram na milenar luta do "homem contra a besta"; representando nessa luta o valor da inteligência humana contra a "natureza". Vejamos, isto não é um pouco arcaico para uma sociedade que se argumenta ética e moral após todas as atrocidades que foram cometidas no séc XX?

    "A tourada é como um negócio, dá emprego a várias pessoas, desde os cavaleiros até aos tratadores. Estas pessoas são pessoas que aprenderam com a família a arte deste espectáculo, muito provavelmente têm outro trabalho mas tal como nós gostamos de ter um hobbi, um desporto, uma distracção, estas pessoas gostam de pertencer a um grupo de tourada"

    É verdade: a tourada emprega pessoas. É, no entanto, um pequeno grupo. Os ganadeiros já recebem subsídios por cabeça de gado, ou seja, não vivem principalmente das touradas. Os mais afectados com uma potencial abolição seriam os toureiros profissionais. Mas repara : Lá porque gostas, ou porque gostam é suficiente para justificar a tourada? Não queria suscitar este assunto, mas é conveniente para te mostrar como estás errado. Um psicopata gosta de matar pessoas, porque para ele não existe uma barreira entre o "certo" e o "errado" estabelecidos na nossa sociedade como padrões morais. Então, se ele gosta, já justifica qualquer homicídio que o psicopata comete?

    "Acabar com a Tourada à Portuguesa é a mesma coisa de acabar com as visitas aos monumentos, tapá-los para que ninguém os veja."

    Não. Completamente errado! Os momumentos são registos históricos, a Tourada é uma prática corrente. Os monumentos têm uma história associada, seja ela boa ou má, não deve ser tapada! As touradas não têm uma história inerente, são apenas uma maneira de divertir o publico como é o futebol, só que estas assentam em valores que têm em pouca consideração o sofrimento de um animal.



    Espero que compreendas o meu ponto de vista e que sejas crítico. É essencial ser crítico e ter informação suficiente!

    E já agora, as aulas de filosofia são muito importantes, apesar de parecerem uma seca! Eu passei com 11 a filosofia há uns aninhos e acredita, estou arrependido! :)

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  3. E a UNESCO ainda não considerou a Tourada como património imaterial (vulgo, cultural). E dificilmente assim será considerada pela UNESCO, tendo em conta a controvérsia que ia gerar!

    Espero que compreendas que os argumentos contra a tourada são racionais e não é necessário pescar filosofias fundamentalistas os justificar! :)

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