Costumam os autores reduzir a duas as características da literatura barroca: cultismo e conceptismo. Estas características foram entre nós apontadas e exemplificadas por Rodrigues Lobo em Corte na Aldeia e, em Espanha, pelo jesuíta Baltasar Gracián (1601-1658) na obra Agudeza y Arte de Ingenio (1642).
Cultismo
Jogo de palavras.
Com o ludismo de palavras pretendia o escritor barroco causar no leitor um choque à base da surpresa. Para o fazer lançava ambas as mãos à paronímia, à homofonia, aos trocadilhos, a semelhanças puramente casuais e fora de toda a lógica.
Notemos que os poetas procuram impressionar, jogando com a paronímia (Marte e morte, Castelo e Castela), com a semelhança de palavras absolutamente fortuita (bulha e Bulhão) e até com a homofonia (nós cegos e nós, cegos).
Jogo de imagens e de figuras.
O jogo de imagens constroem-no os escritores à base de metáforas acumuladas sobre metáforas, de hipérboles, de contrastes, antíteses, trocadilhos e paradoxos, de repetições e aliterações, de adjectivação encarecedora e enfática.
Jogo de construções.
Outro dos aspectos típicos do cultismo é o ludismo de construção frásica. Os poetas barrocos entretiveram-se com frequência a disporem as palavras em forma de cruzes, de pirâmides e de outras figuras geométricas, entreteceram labirintos (poesias com frases tais que admitem leitura em várias direcções), obrigaram-se a rimas impostas e motes extravagantes, brincaram com a disposição em acrósticos, etc.
No entanto, o jogo de construções mais engenhoso e frequente é a chamada alternância de construção frásica.
António José Barreiros, História da Literatura Portuguesa
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