sábado, 8 de outubro de 2011

Encontro entre Povos e Culturas

A declaração do ano 2008 como ano europeu dedicado ao interculturalismo mostra como este assunto revela a sua importância crescente. Temas como este obrigam-nos a reflectir sob uma perspectiva moral e ética. Ao longo deste texto tentarei abordar temas relacionados com o diálogo entre os povos e a sua importância, assim como os seus obstáculos. Todos nós somos diferentes, isso é um facto, e por isso mesmo tentarei mostrar porque é positivo contactar com várias e diferentes pessoas e que efeito poderá ter a entrada de diferentes culturas no nosso meio.     
Entendamos cultura como um agente de humanização que confere sentido à vida através de princípios ético-morais como as noções de bem e mal, ideias e crenças relacionadas com a política ou religião, instituições sociais como direito ou casamento, conjunto de tradições e costumes e também os preconceitos.
Quando confrontadas com a diferença, normalmente os indivíduos poderão tomar atitudes como o etnocentrismo. Este é expressado através da incompreensão e a não-aceitação do outro que resulta usualmente no agrupamento dos semelhantes em agregados que passam a desenvolver um sentimento de superioridade em relação a outros. O argumento utilizado por estas pessoas é o facto de as outras culturas não conhecerem ou entenderem o seu sistema de vida. A defesa e preservação dos valores em que acreditam leva por vezes à tomada de atitudes como a xenofobia, o racismo e o chauvinismo. Não aceito este argumento, simplesmente não vejo qualquer problema em conviver com outros. Esse não é um factor de inevitabilidade que me fará perder as minhas tradições e esquecer as minhas origens. Parece-me que é por preconceito, essa aceitação de algo acrítica e cegamente de uma ideia concebida e passada de geração em geração que as pessoas assumem tal postura. A ignorância é algo que neste caso as impede de enriquecerem enquanto seres humanos.
Outra atitude frequentemente tomada, parecendo-me a mim a mais habitual, é denominada por relativismo cultural. Esta passa pelo respeito pelas demais culturas, todavia também pela recusa da aceitação destas levando normalmente ao isolamento, enclausuramento dos indivíduos, sendo objectivo destes a preservação da sua cultura.    
O tema do convívio entre os povos pode por vezes ser controverso. Porque é que as diferentes culturas não poderão simplesmente coexistir pacificamente? Uma das causas poderá ser a não uniformidade de valores entre todas as culturas. Algo que num país será bem aceite, poderá não ter a mesma adesão noutro país. Porém este facto não explica nenhuma das atitudes acima descritas.
Para que a paz reine é essencial que as relações entre as culturas se baseiem em princípios como o respeito mútuo e igualdade porque só assim é possível a compreensão da riqueza e complexidade de ambos os lados e promovido o diálogo entre estes. O clima pacífico não é alcançável através da renúncia às tradições. Não é possível através do isolamento que provoca o fraco desenvolvimento dos povos. Valores como liberdade, igualdade, solidariedade, consideração, respeito e tolerância são a chave e devem abundar pois só assim o contacto entre os povos e culturas será bem sucedido.
O diálogo é facilitado pelo interculturalismo. Esta atitude passa pelo reconhecimento da diferença e pela sua valorização e é importante pois nenhuma cultura se encontra ainda desenvolvida ao máximo, por isso o diálogo entre as culturas torna-se num processo enriquecedor para ambas as partes. Por viabilizar a troca de experiências que nos fazem reconhecer o benefício do contacto intercultural promovendo o nosso crescimento e evolução para seres mais humanos, mais ricos, mais sensíveis, com uma mente mais aberta, esta é para mim a postura mais certa a assumir.
 Afirmou Ghandi: “Não quero que minha casa seja cercada por muros de todos os lados e que as minhas janelas estejam tapadas. Quero que as culturas de todos os povos andem pela minha casa com o máximo de liberdade”.
Concordando plenamente com o frase o único inconveniente que encontro nesta citação é “o máximo de liberdade”. Passo a explicar: a liberdade é algo que respeito e que considero mais que importante, essencial. O problema é quando a liberdade passa a ser um pretexto para a imposição de certas culturas sobre outras. Para que isto não aconteça devemos respeitar quem é diferente de nós e encarar a liberdade que nos é proporcionada como uma bênção que permite a coexistência e um clima de paz e segurança.
Utopicamente falando, um meio onde pudéssemos exprimir as nossas crenças, praticar as nossas tradições sem interferirmos com o outro, lhe causarmos qualquer tipo de incómodo e vice-versa, seria perfeito.
Concluindo, posso afirmar que, por o etnocentrismo não fundamentar a dignidade humana nem qualquer coisa benéfica, sou contra ele. Também não concordo com a subordinação de qualquer cultura a uma outra nem com a imposição de opiniões e hábitos por parte de culturas porque acho que ninguém tem esse direito e nem sei como alguém poderá achar que o detém. Pelo contrário, pelo facto de o interculturalismo permitir o enriquecimento dos povos permitido pelo diálogo que possibilita uma interacção harmoniosa, apoio inteiramente o convívio entre os povos. O relativismo cultural para mim faz sentido apenas porque existe respeito envolvido.      
Apenas quando todos formos capazes de olhar para a nossa cultura como um cruzamento entre várias é que as relações entre culturas passarão a ser pacíficas. Nós portugueses e todos os outros não podemos esquecer-nos que coisas simples como a língua que falamos, a numeração que utilizamos e os progressos que temos vindo a fazer resultam todos da intersecção dos povos. Por isto posso afirmar que o encontro entre os povos e culturas constitui uma enorme riqueza para Humanidade. Cada cultura tem algo para nos oferecer, mas o processo é apenas viável se abrirmos a mão do preconceito e formos capazes de olhar o mundo sob uma óptica não egoísta, criando laços com aqueles que são iguais e diferentes de nós e que merecem o nosso respeito.


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