quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Mensagem


PRIMEIRA PARTE: BRASÃO
Bellum sine bello.

V. O TIMBRE
A OUTRA ASA DO GRIFO / AFONSO DE ALBUQUEROUE

De pé, sobre os países conquistados
Desce os olhos cansados
De ver o mundo e a injustiça e a sorte.
Não pensa em vida ou morte
Tão poderoso que não quer o quanto
Pode, que o querer tanto
Calcara mais do que o submisso mundo
Sob o seu passo fundo.
Três impérios do chão lhe a Sorte apanha.
Criou-os como quem desdenha.

            Afonso de Albuquerque nasceu em 1453 e faleceu em 1515. Foi um fidalgo, militar e o segundo governador da Índia portuguesa cujas acções militares e políticas foram determinantes para o estabelecimento do império português no Oceano Índico. Pouco antes da sua morte foi agraciado com o título de vice-rei e "Duque de Goa" pelo Rei D. Manuel I, que nunca usufruiu, no que foi o primeiro português a receber um título de além-mar e o primeiro duque nascido fora da família real. Foi o segundo europeu a fundar uma cidade na Ásia, o primeiro foi Alexandre, O Grande.
            O poema centra-se no desempenho de Afonso de Albuquerque na Ásia, por contrapartida com o seu descrédito na corte de Lisboa motivado por invejas.

"tão poderoso que não quer o quanto pode, que o querer tanto calcara mais do que o mundo sob o seu passo"
Albuquerque podia até ter-se proclamado imperador, mas sempre foi súbdito fiel do Rei D.Manuel. Não queria o quanto podia porque o seu sucesso lhe pesava mais sobre os ombros (por ter perdido o favor real) do que a conquista pesara aos povos submetidos.

"três impérios lhe a Sorte apanha"
Refere-se às conquistas de Goa (na Índia), Malaca (na Malásia) e Ormuz, no Golfo Pérsico.

"apanha-os como quem desdenha"
Submete-os como se isso fosse coisa de pouca monta.

SEGUNDA PARTE: MAR PORTUGUEZ
Possessio maris.
I. O INFANTE

Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,
E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.
Quem te sagrou criou-te portuguez..
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!

"Foste desvendando a espuma e a orla branca foi de ilha em continente..."
A espuma das ondas que acabam nas praias ou rebentam contra os rochedos marca as costas com uma orla branca. A frase anterior é uma forma poética de dizer que as costas foram sendo descobertas, primeiro as ilhas e depois os continentes, "até ao fim do mundo".

"Quem te sagrou criou-te português"
Porque, segundo Fernando Pessoa, Deus fadou Portugal para um magno destino e o Infante foi, por assim dizer, parte do "puzzle".

"Do mar e nós, em ti nos deu sinal"
Através de ti revelou-nos que o nosso destino era o Mar.

"Cumpriu-se o Mar e o Império se desfez...falta cumprir-se Portugal"
Cumpriu-se o destinado: o Mar foi desvendado; o Império Português (isto é, o controle das rotas oceânicas e a hegemonia no Índico) desfez-se. Pessoa pensa que Portugal está destinado à grandeza futura, e isso ainda não se cumpriu!


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