A obra de Fernando Pessoa está dividida em duas partes. Na primeira divisão constam poemas que respeitam à morfologia de Portugal e à história da sua primeira dinastia. Na segunda, chamada “O Mar Português”, estão contidas considerações acerca da bravura dos navegadores portugueses que com curiosidade exploram o mar. Procede-se à exaltação dos feitos heróicos dos navegadores corajosos que são celebrados, não individualmente, mas como uma pátria que através da transcendência se pôde imortalizar.
Quanto à estrutura formal do poema, pode constatar-se que é constituído por três estrofes, cada uma delas com nove versos. Estes são compostos segundo o esquema rimático aabaacdcd.
O assunto abordado é a chegada ao Cabo das Tormentas. Este cabo, à época nunca ultrapassado, é afamado pelo perigo que lhe é inerente. As histórias largamente difundidas, que constituíam lendas populares acerca de monstros devoradores de naus, faziam com que este cabo se encontrasse envolto num misto de enigma e assombro. Quando os portugueses aí chegam, no sul de África, uma personificação desse terror surge com o Mostrengo correspondente ao Adamastor em Os Lusíadas (Canto V;37-60)
Embora em Os Lusíadas se comprove uma descrição mais detalhada deste monstro, na obra da Mensagem é possível apreender que o Mostrengo é igualmente assustador. Os eventos nas duas obras são semelhantes; o Mostrengo e o adamastor rodeiam as naus sendo olhados com desconfiança e temor. A insistência na interrogação, por parte do mesmo que sente invadidas as águas da sua posse, tentando perceber a mando de quem é que aquelas naus ali se encontram, e a repetida afirmação do nome de D. João II serve para demonstrar o carácter heróico dos portugueses que, apesar de aterrorizados, respondem assertivamente ao enfrentar o Mostrengo. O homem que vai ao leme e que responde assume uma dimensão heróica, não só individual, mas também colectiva já que representa uma inteira pátria com um objectivo a atingir. Esta ideia poderá ser confirmada através da leitura da terceira estrofe; aqui presente a vontade de possuir o mar.
A introdução da figura do Mostrengo tão horrível e corpulento tem como finalidade realçar a condição humana que é tão frágil, mas que ao mesmo tempo tão poderosa. Por um lado, está sujeita a estas ameaças, mas por outro, o ultrapassar dessas dificuldades concede um estatuto mítico a quem por elas passa. Este poema confirma o facto de os portugueses terem enfrentado vicissitudes ao longo das suas viagens e a coragem com que contra elas lutam.
Epitáfio de Bartolomeu Dias
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