domingo, 25 de novembro de 2012

Mensagem


A obra de Fernando Pessoa está dividida em duas partes. Na primeira divisão constam poemas que respeitam à morfologia de Portugal e à história da sua primeira dinastia. Na segunda, chamada “O Mar Português”, estão contidas considerações acerca da bravura dos navegadores portugueses que com curiosidade exploram o mar. Procede-se à exaltação dos feitos heróicos dos navegadores corajosos que são celebrados, não individualmente, mas como uma pátria que através da transcendência se pôde imortalizar.

O Mostrengo

Quanto à estrutura formal do poema, pode constatar-se que é constituído por três estrofes, cada uma delas com nove versos. Estes são compostos segundo o esquema rimático aabaacdcd.
O assunto abordado é a chegada ao Cabo das Tormentas. Este cabo, à época nunca ultrapassado, é afamado pelo perigo que lhe é inerente. As histórias largamente difundidas, que constituíam lendas populares acerca de monstros devoradores de naus, faziam com que este cabo se encontrasse envolto num misto de enigma e assombro. Quando os portugueses aí chegam, no sul de África, uma personificação desse terror surge com o Mostrengo correspondente ao Adamastor em Os Lusíadas (Canto V;37-60)
Embora em Os Lusíadas se comprove uma descrição mais detalhada deste monstro, na obra da Mensagem é possível apreender que o Mostrengo é igualmente assustador. Os eventos nas duas obras são semelhantes; o Mostrengo e o adamastor rodeiam as naus sendo olhados com desconfiança e temor. A insistência na interrogação, por parte do mesmo que sente invadidas as águas da sua posse, tentando perceber a mando de quem é que aquelas naus ali se encontram, e a repetida afirmação do nome de D. João II serve para demonstrar o carácter heróico dos portugueses que, apesar de aterrorizados, respondem assertivamente ao enfrentar o Mostrengo. O homem que vai ao leme e que responde assume uma dimensão heróica, não só individual, mas também colectiva já que representa uma inteira pátria com um objectivo a atingir. Esta ideia poderá ser confirmada através da leitura da terceira estrofe; aqui presente a vontade de possuir o mar.
A introdução da figura do Mostrengo tão horrível e corpulento tem como finalidade realçar a condição humana que é tão frágil, mas que ao mesmo tempo tão poderosa. Por um lado, está sujeita a estas ameaças, mas por outro, o ultrapassar dessas dificuldades concede um estatuto mítico a quem por elas passa. Este poema confirma o facto de os portugueses terem enfrentado vicissitudes ao longo das suas viagens e a coragem com que contra elas lutam.

Epitáfio de Bartolomeu Dias

Este poema, constituído por uma estrofe cujos versos seguem um esquema rimático de abab, consiste na dedicação de algumas palavras de homenagem a Bartolomeu Dias. Fernando Pessoa sugere um epitáfio; poema, citação, ou pequeno texto, que se grava nos túmulos das pessoas falecidas. Logo na primeira estrofe é feita uma referência à localização geográfica de Portugal: “pequena praia extrema”. Seguidamente existe uma referência à passagem do Cabo das Tormentas que ocorreu sob o comando de Bartolomeu Dias, o Capitão do Fim. Quando este cabo é ultrapassado, as dúvidas que pairavam sobre a exequibilidade deste feito desapareceram. O autor faz ainda uma referência a Atlas, personagem mítica, um titã cujo castigo seria carregar a esfera celeste aos seus ombros. Em Mensagem, Atlas suporta, em vez dos céus, o Mundo e com esta alteração pretende-se afirmar a esfericidade da Terra de que, ainda no século XV, se duvidava.

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