As Rosas Amo dos Jardins de Adônis
As Rosas amo
dos jardins de Adônis,
Essas
volucres amo, Lídia, rosas,
Que em o dia
em que nascem,
Em esse dia
morrem.
A luz para
elas é eterna, porque
Nascem
nascido já o sol, e acabam
Antes que
Apolo deixe
O seu curso
visível.
Assim
façamos nossa vida um dia,
Inscientes,
Lídia, voluntariamente
Que há noite
antes e após
O pouco que
duramos.
Volucres –
que tem vida curta
Inscientes-
não ciente, desconhecedor
Ricardo Reis, de todos os heterónimos, era conhecido por ser
neoclassicista, ou seja, acredita nos Deuses e nas presenças divinas, e neste
poema é feita uma referência a dois Deuses: Adónis e Apolo.
Adónis notabilizou-se por ser um excelente caçador. Foi amado por Vénus
que sofreu o enorme desgosto quando Adónis foi morto por um javali. O mito de
Adónis está ligado à origem da mirra e da rosa, plantas que nasceriam de uma
gota do seu sangue.
Apolo era filho de Júpiter. Tinha como principal tarefa conduzir o Sol
à volta do Universo. Era considerado deus da poesia, da música e das artes.
Neste poema está bastante presente
o carpe diem epicurista, característica também muito presente de Ricardo Reis,
isto é, viver o presente sem pensar do antes e no depois.
Considero que este poema se
divide em três partes:
1ª Parte: O sujeito poético diz
amar as rosas dos jardins de Adónis
2ª Parte: O sujeito poético
explica a razão pela qual afirma amar essas mesmas rosas, sendo porque a luz
para elas é eterna, visto nascerem ao nascer do Sol e morrerem antes do Sol de
pôr.
3ªParte: É uma parte mais
apelativa onde o sujeito poético pede a Lídia que faça qualquer coisa, neste
caso, pede que ela viva com ele o instante. É feita também uma transposição do
que acontece às rosas para a sua vida.
Nas três partes há uma sequencia
lógica na medida em que a a 1ª e a 2ª parte estão ligadas como justificação e a
3ª é uma transposição do que acontece na Natureza para a vida de ambos.
Também há uma inversão da ordem
Natural neste poema, onde o sujeito poético ao escrever «Essas volucres amo,
Lídia, rosas, Que em o dia em que nascem, Em esse dia morrem.» significa:
Lídia, eu amo essas volucres rosas, que no mesmo dia que nascem, morrem.
Seguro
assento na coluna firme [1]
Seguro
assento na coluna firme
Dos versos em que fico,
Nem temo o
influxo inúmero futuro
Dos tempos e do olvido;
Que a mente,
quando, fixa, em si contempla
Os reflexos do mundo,
Deles se
plasma torna, e à arte o mundo
Cria, que não a mente.
Assim na
placa o externo instante grava
Seu ser, durando nela
Neste poema está igualmente presente
o carpe diem, e o poema rege-se novamente por ele.
O sujeito poético cria, neste poema, uma ideia de não ter medo do tempo
ou do esquecimento, uma vez que o instante vivido, e a sua essência ficarão
sempre gravados nos seus poemas, como é visível nos versos 3 e 4 – 9 e 10,
assim ele não tem medo de morrer pois é como se continuasse a viver através
deles.
A mente cria o reflexo do mundo e torna-o em arte, como os poemas, e
esta arte grava os instantes externos do mundo.
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