quinta-feira, 14 de março de 2013


As Rosas Amo dos Jardins de Adônis

As Rosas amo dos jardins de Adônis,
Essas volucres amo, Lídia, rosas,
Que em o dia em que nascem,
Em esse dia morrem.
A luz para elas é eterna, porque
Nascem nascido já o sol, e acabam
Antes que Apolo deixe
O seu curso visível.
Assim façamos nossa vida um dia,
Inscientes, Lídia, voluntariamente
Que há noite antes e após
O pouco que duramos.

Volucres – que tem vida curta
Inscientes- não ciente, desconhecedor

Ricardo Reis, de todos os heterónimos, era conhecido por ser neoclassicista, ou seja, acredita nos Deuses e nas presenças divinas, e neste poema é feita uma referência a dois Deuses: Adónis e Apolo.
Adónis notabilizou-se por ser um excelente caçador. Foi amado por Vénus que sofreu o enorme desgosto quando Adónis foi morto por um javali. O mito de Adónis está ligado à origem da mirra e da rosa, plantas que nasceriam de uma gota do seu sangue.
Apolo era filho de Júpiter. Tinha como principal tarefa conduzir o Sol à volta do Universo. Era considerado deus da poesia, da música e das artes.
                Neste poema está bastante presente o carpe diem epicurista, característica também muito presente de Ricardo Reis, isto é, viver o presente sem pensar do antes e no depois.
                Considero que este poema se divide em três partes:
                1ª Parte: O sujeito poético diz amar as rosas dos jardins de Adónis
                2ª Parte: O sujeito poético explica a razão pela qual afirma amar essas mesmas rosas, sendo porque a luz para elas é eterna, visto nascerem ao nascer do Sol e morrerem antes do Sol de pôr.
                3ªParte: É uma parte mais apelativa onde o sujeito poético pede a Lídia que faça qualquer coisa, neste caso, pede que ela viva com ele o instante. É feita também uma transposição do que acontece às rosas para a sua vida.
                Nas três partes há uma sequencia lógica na medida em que a a 1ª e a 2ª parte estão ligadas como justificação e a 3ª é uma transposição do que acontece na Natureza para a vida de ambos.
                Também há uma inversão da ordem Natural neste poema, onde o sujeito poético ao escrever «Essas volucres amo, Lídia, rosas, Que em o dia em que nascem, Em esse dia morrem.» significa: Lídia, eu amo essas volucres rosas, que no mesmo dia que nascem, morrem.

Seguro assento na coluna firme [1]

Seguro assento na coluna firme
                Dos versos em que fico,
Nem temo o influxo inúmero futuro
                Dos tempos e do olvido;
Que a mente, quando, fixa, em si contempla
                Os reflexos do mundo,
Deles se plasma torna, e à arte o mundo
                Cria, que não a mente.
Assim na placa o externo instante grava
                Seu ser, durando nela

                Neste poema está igualmente presente o carpe diem, e o poema rege-se novamente por ele.
O sujeito poético cria, neste poema, uma ideia de não ter medo do tempo ou do esquecimento, uma vez que o instante vivido, e a sua essência ficarão sempre gravados nos seus poemas, como é visível nos versos 3 e 4 – 9 e 10, assim ele não tem medo de morrer pois é como se continuasse a viver através deles.
A mente cria o reflexo do mundo e torna-o em arte, como os poemas, e esta arte grava os instantes externos do mundo.
                 

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