quinta-feira, 14 de março de 2013

APRESENTAÇÃO ORAL DE PORTUGUÊS - Abdicação




Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços
E chama-me teu filho.
Eu sou um rei que voluntariamente abandonei
O meu trono de sonhos e cansaços.

Minha espada, pesada a braços lassos,
Em mão viris e calmas entreguei;
E meu cetro e coroa – eu os deixei
Na antecâmara, feitos em pedaços.

Minha cota de malha, tão inútil,
Minhas esporas de um tinir tão fútil,
Deixei-as pela fria escadaria.

Despi a realeza, corpo e alma
E regressei à noite antiga e calma
Como a paisagem ao morrer do dia.

Fernando Pessoa
Diz-se que este poema é um relato exacto de como foi escrito e em que estado de espírito o autor estava quando o escreveu pois, segundo o que se sabe, Fernando Pessoa escreveu, em Fevereiro de 1913, uma carta a um amigo a contar o que se passava consigo, o que sentia e que ia escrever um poema.
Este poema de Fernando Pessoa é um soneto (14 versos) e aborda um tema bastante recorrente nos poemas de sua autoria – a noite e a solidão. No caso deste poema, a noite simboliza a solidão (que não era estranha a Pessoa pois fazia parte do seu dia-a-dia). É um poema bastante calmo devido ao sentimento que o autor tinha quando o escreveu.
O título deste poema –‘Abdicação’- está presente em todas as estrofes. Abdicar é desistir, ceder, e é algo que está presente em toda a obra. Este poema demonstra também dignidade devido ao facto de o poeta abdicar das suas coisas. Na 1ªestrofe podemos realçar os dois últimos versos –‘ Eu sou um rei que voluntariamente abandonei / O meu trono de sonhos e cansaços.’; na 2ªestrofe a presença de abdicação está nos verbos ‘entreguei’ e ‘deixei’; na 3ªestrofe podemos ter atenção no verbo ‘deixei-as’ e na 4ªestrofe são os verbos ‘despi’ e ‘regressei’ que remetem à abdicação. 

Sem comentários:

Enviar um comentário