segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Esparsa Sua ao Desconcerto do Mundo

Esparsa Sua ao Desconcerto do mundo
Os bons vi sempre passar
No mundo de graves tormentos;
E pera mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando assim alcançar
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que só pera mim,
Anda o Mundo concertado.
Luís de Camões

Camões é, provavelmente, o maior poeta português de sempre.
Embora seja largamente conhecido pela sua obra épica “Os Lusíadas”, a Lírica camoniana mostra-nos que Camões é “muito mais que os homens” (Flor Bela Espanca).
Este poema, classificado como redondilha, foi recolhido da edição de Estêvão Lopes, de 1598. Embora grande parte dos poetas escreva sobre o amor, a arte, a beleza, Camões marca a sua obra Lírica com a sua posição filosófica.
Relativamente à interpretação do poema, designado “Esparsa Sua ao Desconcerto do Mundo”, muito embora seja relativamente curto, opino que diz mais que muitos livros repletos de palavras. Como ponto prévio na abordagem do poema realço que em todas as sociedades existe o bem e o mal; o justo e o injusto. Saliento ainda que Camões é clássico, e este facto implica intemporalidade.
Na reflexão de Camões (neste poema) a ordem social instituída é injusta, por isso diz que o Mundo está desconcertado. O que seria justo era os bons serem recompensados e os maus serem castigados. No entanto, não é isso que acontece. Os bons sofrem e vivem num mundo de “graves tormentos” e os maus acabam por conseguir tudo o que querem vivendo assim num “mar de contentamentos”.
O poeta tenta alcançar o “bem tão mal ordenado”, que é o mal, para se inserir na ordem social desconcertada e assim receber o bem e encontrar-se também num “mar de contentamentos”.
Esta foi uma tentativa falhada, pois ao ser mau o poeta foi logo castigado. Porquê?
Apesar de ter feito o que fazem os maus, ele não acreditava no que estava a fazer. E quem não acredita no que faz não pode ser bem sucedido. As pessoas genuinamente boas não conseguem ser más, pois vai contra os seus valores éticos e morais. O poeta concluiu então que só para ele é que “anda o mundo concertado”.

Mariana Dinis nº17 10ºE

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