Neste poema, Fernando Pessoa qualifica António Vieira como o
maior orador do seu tempo, notável estilista da prosa portuguesa como se denota
no verso “ imperador da língua portuguesa”.
Quando Pessoa diz “surge, prenúncio claro do luar, El-rei
D.Sebastião” refere-se aos escritos do Padre António Vieira referente às
esperanças de Portugal que um grande rei conduziria a um futuro Quinto Império
Mundo. Baseia-se também nas profecias de Bandarra que anunciava o regresso do
rei D.Sebastião.
Pessoa tem um momento em que afirma “foi-nos um céu também”,
ou seja, designa António Vieira como um céu estrelado dos portugueses,
grandioso, trazendo assim, grandiosidade à Língua Portuguesa.
No verso “Mas não, não é luar: é luz do etéreo”, o poeta diz
que não é o luar, ou seja, o final do dia, referindo-se ao Império Material das
Índias mas a luz celeste, o começo de um novo dia, um Império Espiritual, o
Quinto Império.
“Screvo o meu livro à beira-mágoa”
Este é um poema sebastianista. Neste, o poeta, na sua mágoa,
preenche os dias refugiando-se no mito de um Salvador que há-de vir redimi-lo e
realizar o sonho português de há muitas eras. Embora ciente da sua existência
apenas do sentir e pensar, arremete-o a dúvida de quando será a sua vinda.
Este poema divide-se em duas partes:
A primeira resume-se aos primeiros seis versos. O poeta fala
da sua tristeza e da sua única consolação – a crença de um “Senhor” que é a
única entidade capaz de lhe devolver a confiança no futuro e preencher os seus “dias
vácuos”.
Já a segunda parte é constituída por várias perguntas
introduzidas por “Quando” e dirigidas a uma entidade mítica (Rei, Senhor, Hora,
Cristo, Encoberto, Sonho), invocando a sua vinda rápida, sendo esta a única
maneira de materializar os sonhos centenários e de o poeta se libertar do contingente,
do incerto e de alcançar “Novas Terras” e “Novos Céus”.
Rita Cruz, Nº26, 12ºE